Em 8 parágrafos: por que uma Universidade de Polícia com
feições humanísticas ?
Não são os
conhecimentos técnicos que humanizam o homem e estabelecem uma relação de
confiança entre a Instituição Polícia Militar e seus integrantes, mas as humanidades.
Começando 2013, temos
diante de nossos olhos um quadro em que a gestão estratégica compreende as
vantagens operacionais de eficiência e eficácia da criação de uma Universidade
de Polícia e pode-se perguntar: Por que esta nascente universidade deveria ter
feições humanísticas? Por que é tão importante que a marca, a ideia, o conceito
de uma Universidade de Polícia deva nascer já com um aspecto humanístico? Por que deve esta universidade ser o baluarte
da eficiência, mas também da difusão de uma cultura humanística? E por que esta
universidade deveria ser o carro chefe de um movimento de humanização do
ambiente e do serviço policial-militar que é oferecido ao cidadão? O que é
humanização, afinal? Não é o mesmo que valorização profissional?
Antes de tudo
é preciso ter consciência que a iminente Universidade de Polícia que venha a
catapultar para novíssima fase todas as escolas policiais-militares, deve
possuir, já na sua criação, um perfil humanístico, porque este perfil definirá
a longo prazo, a face de toda a Instituição policial-militar.
Em segundo
lugar porque os novos conhecimentos profissionais de que precisamos englobam os
conhecimentos das humanidades que são essencialmente conhecimentos na forma de
literatura, de textos de sociologia, antropologia etc e na forma de cinema,
teatro, música etc, que ampliam e aprofundam no policial militar a percepção –
em si e nos outros – de dramas sociais/políticos e individuais/éticos. Isto
porque estes conhecimentos humanísticos não devem ser apenas exigidos na prova
de ingresso na Instituição, mas devem ser sempre cultivados e tratados nas
fileiras da Instituição. Fundamentalmente porque o homem não nasce homem ele se
torna. E são as disciplinas humanas que podem garantir a continuidade do
processo de humanização do homem, de
seu ambiente de trabalho e do serviço que oferece ao cidadão.
Do contrário, se
por novos conhecimentos profissionais entende-se apenas conhecimentos técnicos
e habilidades práticas que se ensina e se cobra apenas com o método de
premiação e punição, é preciso dizer, a Universidade de Polícia será apenas um
aparelho administrativo mais eficaz, mais econômico e mais rápido na meta de
capacitar seus profissionais para a oferta de serviços-padrão de segurança
pública, preconizados por uma Gestão Estratégica movida apenas por resultados a
curto prazo.
No entanto, estes
resultados não terão lastro, serão inconstantes, sofrerão crises porque não
estarão fundados em bases duradouras. Sobretudo porque, se a gestão estratégica
foca apenas conhecimentos técnicos e habilidades profissionais, ela confia –
sem confessar ou saber – unicamente nas leis de mercado dizendo para si mesma:
ensino bem e mais, gastando menos tempo e dinheiro e se o profissional não
aplicar o que aprendeu, eu simplesmente o troco por outro no mercado de
trabalho. Esta não é uma relação de confiança, é uma relação de poder.
Devemos evitar
este admirável mundo novo em que o
progresso técnico, ao invés de servir ao homem, o oprime, o instrumentaliza, o
desumaniza e o torna descartável, colocando-o em posição adversa à
administração, em atitude defensiva e rancorosa na sua impotência ocasional em
abrir mão de seu emprego público que é o real motivo da irrupção de crises
institucionais cuja culpa é sempre direcionada com habilidade para o administrado
pelo não cumprimento de um procedimento padrão e não para administração que
deveria ser capaz de persuadi-lo a seguir este padrão em uma relação de
confiança.
Naturalmente,
auspiciamos uma Universidade de Polícia que seja eficaz, econômica e ágil, mas
que também seja capaz de superar e substituir em um órgão policial a subcultura
de violência e a cultura de competição e relações baseadas no poder – ainda
comuns, apesar dos progressos, em toda a sociedade brasileira – por relações
baseadas na mútua confiança, na convicção da igualdade de todos diante das
leis, na vantagem, para cada um de nós, da solidariedade e da prioridade para o
bem comum. Pensamentos fortes originários e ensinados pelas humanidades.
Assim, são as
disciplinas humanas unicamente que podem agregar à eficácia, economia e rapidez
do ensino moderno um lastro, uma constância, uma garantia duradoura contra
crises para seu padrão de serviços de referência, isto é, atingir a meta da
Instituição.